FARIAS BRITO E A FILOSOFIA DO ESPÍRITO

FARIAS BRITO E A FILOSOFIA DO ESPÍRITO

Fernando Rodrigues, amigo e colaborador do MIL-B

               Um personagem de Chesterton, em “A Esfera e a Cruz”, quebrava a bengaladas as vidraças de um jornal que ofendia a Mãe de Cristo,como uma maneira de fazer frente aos opositores e inimigos mortais do Cristianismo e da Crinstandade.  Nesta linha de raciocínio, no Brasil, Raimundo Farias Brito (1862-1917), notável filósofo cearense, hoje tão olvidado dos meios intelectuais, espancava seus antagonistas com o vigor de sua pena, sobretudo àqueles pertencentes ao que ele alcunhou de “filosofia do desespero”, a saber, o fenomenismo de Hume; o criticismo de Kant; o positivismo de Augusto Comte.

               A obra erigida pelo portentoso pensador pátrio contribuiria em nosso tempo, para por cobro à faina demolidora, esse insulamento trágico do existir – conforme expressão de Elias Tejada – que é a regra dos desbocados existencialismos moderno, seja o cristão de Soren Kierkegaard, ou o heideggeriano, ou mesmo o existencialismo ateu de Sartre.

                Farias Brito entendia que, a filosofia, fornecendo uma interpretação da existência, da fenomenologia do Ser, dá-nos ao mesmo tempo a compreensão do nosso destino.  Novalis, de uma certa feita, ensinou que, só um artista pode adivinhar o sentido da vida. Nesse sentido, Carlos da Veiga Lima, em estudo referente à obra de Farias Brito, dizia em certa altura: “E haverá maior artista que o filósofo?… A filosofia é a arte suprema… arte para nosso filósofo, não é senão, energia criadora do ideal”.

               A realidade é uma afirmação do espírito, e só o espírito atrai o pensamento, dando-lhe força pragmática, modelando como IDÉIA FORÇA que coordena o obscuro mecanismo da nossa personalidade e da realidade à nossa consciência e eficácia a idéia (Carlos da Veiga Lima). Somente através da filosofia se pode alargar o horizonte humano da vida moral e chegar ao heroísmo da vida religiosa. Acerca do assunto, consoante a lição do insuspeito Willian James, filosofo do pragmatismo, “… é no heroísmo bem sentimos, que se acha escondido o mistério da vida… é abraçando a morte q se vive a vida mais alta, mais intensa, mais perfeita, profunda verdade de que o ascetismo foi sempre no mundo campeão fiel. A loucura da Cruz conserva uma significação profunda e viva”. (W. James, in L´experience religiouse). Farias Brito foi um inovador, um paladino do espírito, se colocou em combate num campo onde se encontravam adversários do estofo de um Tobias Barreto e de uma plêiade de intelectuais seguidores de Augusto Comte e Herbert Spencer, merecendo a justa homenagem do conspícuo professor Câmara Cascudo, que com a loquacidade que lhe era peculiar, definiu o homem e autor de “Finalidade do Mundo”, como, “singular operário, obstinado e tranqüilo, batendo uma silenciosa bigorna, um aço que resistiria à ferrugem de todas as indiferenças, destinado a relampejar, ao calor do sol, como uma aura de esplendor e sucesso”.

               É notório verificar, não sem preocupação, que a juventude, pensante ou não, ainda sofre os influxos da putrefação filosófica, se deleitando nas leituras dos próceres do pensamento materialista, Hegel, Marx, Feuerbach, Heidegger, Kant… se tornando infensos a vigorosidade da “Filosofia do Espírito” do saudoso pensador cearense. Cabe proclamar com exaustão, que para Farias Brito, é o Espírito que elabora idéias, se posiciona sobre a realidade e produz o pensamento, cria a ciência, interpreta o universo. Entendemos que tudo quanto escreveu, foi para os olhos de nossa geração, que caminha como fardo sem endereço, em busca de um relâmpago interior que seja inoculado em suas almas, impulsionando-os às culminâncias mais elevadas, dando significado e dignidade a sua vida terrena e ao seu destino. Corroborando com tudo quanto dissemos, cabe ressaltar a indelével sentença de um insigne pensador lusitano: “… os homens passam com o seu tropéu de ódios, com suas sequências de mentiras e com o seu cortejo de violências, mas que não passa jamais toda afirmação que é feita com amor, com o lampejo da verdade e servida com sinceridade”.

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