Extraído do livro A Doutrina do Sigma, Plínio Salgado, 1935
“A Ação Integralista Brasileira é um movimento revolucionário, não no sentido comum que se empresta a esta expressão, porém num sentido mais alto e profundo.
Quando falamos “revolução integralista” não nos referimos a arregimentação de forças heterogêneas e confusas, tangidas unicamente pelos descontentamentos coletivos e objetivando unicamente o assalto ao poder. Este movimento que se configura o maior do mundo em extensão geográfica, que é o mais impressionante da História da Pátria, desde seu descobrimento, é também, como fenômeno espiritual, o mais expressivo dos tempos modernos, assim como é o mais tipicamente cultural de todos os movimentos sociais e nacionalistas contemporâneos.
A Revolução Integralista se processa em dois planos simultaneamente:
o plano espiritual mediato o plano cultural, imediato No plano espiritual, o objetivo é mediato, porque para atingi-lo teremos de levar muitos anos de doutrinação, de educação constante da massa, de esforço individual de cada um. No plano cultural, o objetivo é imediato, porque o Brasil necessita desde logo de uma transformação do Estado, mediante a qual poderemos assumir nova atitude em face dos problemas …
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O primeiro ato revolucionário do Integralista é assumir essa atitude humilde diante da Pátria. Em vez de viver apontando os defeitos alheios, procurar descobrir os próprios defeitos e procurar corrigi-los. Confiar mais no gênio da raça e na inspiração de Deus do que em seus próprios méritos. Ferir de morte a vaidade, aceitando muitas vezes o comando de um companheiro que tem uma posição social inferior à sua. Vencer a si próprio, contrariando-se, ciliando-se a todo instante em coração e espírito, convencido de que em um país onde cada qual é intransigente em seu ponto de vista pessoal, não existe possibilidade de harmonia de movimentos e nem de grandeza coletiva da nacionalidade. Dominar o comodismo, a preguiça, o ceticismo, a desilusão, o cansaço, o egoísmo, o apego às glórias falazes. Esforçar-se instante a instante, na aprendizagem do domínio de si mesmo, pois é nesse domínio que se encontra a essência da autoridade pessoal de cada um. Cultivar o amor ao seu povo e a generosidade para os que se manifestam incapazes de compreender esse movimento, porque a conquista de todos os brasileiros muito depende da tenacidade de nossos doutrinadores. Despertar em si próprio as forças do sentimento nacional, porque a fusão de todas as centelhas de patriotismo de cada coração formará a fogueira que incendiará o grande coração da Pátria. Pedir a Deus coragem e paciência, fortaleza e inspiração, energia e bondade, bravura sem ostentação, virtude sem orgulho puritanista, humildade sem indignidade e dignidade sem egolatria. …
O Integralismo não se baseia num homem, porém num sistema de idéias. Seus alicerces são os mais sólidos possíveis. O CHEFE não passa de um simples soldado, que eventualmente exprime o princípio da autoridade. Não pretendemos uma ditadura, pois só os bárbaros toleram as ditaduras, ainda quando essas venham disfarçadas em positivismos de segundo grau, em consulados militares ou juntas de salvação públicas. Não nos insurgimos contra homens, porque eles são produtos dos partidos. Os partidos são produtos de um regime, e o regime é produto de uma civilização. Essa civilização é produto de uma filosofia de vida. Essa filosofia de vida é produto de uma atitude de orgulho do homem. É aqui que encontramos o pivot do grande maquinismo da economia e da política, maquinismo descontrolado, sem ritmo lógico e apenas expressivo da confusão desnorteada dos espíritos do Séc XIX. É entretanto no sentido delicado do povo brasileiro que vamos encontrar a chave com que abrimos as portas do Séc XX. Para compreender o movimento Integralista é necessário compreender a alma brasileira e sentir os dramas universais. E essa compreensão é mais simples do que parece. Basta libertarmo-nos de nós mesmos, isto é, dos prejuízos de uma civilização desumana e de uma cultura livresca. Ser simples como a água e como a luz. Ser pobre em coração e em espírito. A lição política das nacionalidades está mais nas coisas simples e boas do que nas complicações com que o charlatanismo de um século, que entronizou o empirismo, perturbou ainda mais as almas agitadas dos povos.”