O GOVERNO FRACO
O governo liberal é um governo fraco e suicida.
Por que fraco??
É fraco por que sua autoridade está subdividida pela divisão dos poderes; porque permite a formação de forças paralelas ou divergentes que o manietam, ameaçam ou influenciam; porque depende de grupos políticos ou financeiros; porque se apóia em organizações partidárias superficiais, temporárias, periclitantes, que se combatem hoje e se conchavam amanhã, ao sabor dos seus pequeninos interesses de pessoas ou corrilhos; porque resulta desses combates ou desses conchavos e lhe falta autoridade moral; porque quando ameaçada a ordem pública, é obrigado, com o ESTADO DE SÍTIO OU ESTADO DE GUERRA, a suspender as garantias que oferece e de que se orgulha, demonstrando que não tem força intrínseca e que carece de outro poder, o legislativo, lha dê por certo e determinado tempo…
Não se apoiando nas classes unidas, na Nação unida, porém sim na Nação partida, a fraqueza do governo liberal se afirma em razão de suas violências e arbitrariedades. Comete-as contra os adversários justamente por lhe faltarem meios de ações legais e fortes. Não é enérgico e sereno; é violento e nervoso. Usa de negaças e de mentiras.
Por que suicida?
Em nome da liberdade, da qual se apregoa corifeu, o governo liberal permite a propaganda de todas as idéias, mesmo as que visem destrui-lo, desde que essa propaganda se exerça dentro da ordem. Ora, isto somente pode ser desconhecimento da própria natureza humana ou profunda hipocrisia. Porque ninguém faz propaganda de idéias para ficar eternamente nessa propaganda. A propaganda tem um fim: preparar a ação. É um preparo da ação. A propaganda de hoje será fatalmente a ação de amanhã. Quem permite a propaganda sabe de fonte limpa que ela se concretizará em atos, mais cedo ou mais tarde. Se permite a propaganda contra si próprio, suicida-se.
Toda idéia passa fatalmente do âmbito do sonho para o da realização. O governo liberal fomenta o sonho e pune ou impede a realização. As vezes, quando quer punir ou impedir, é tarde. A realização o esmaga; suicidou-se.
Há um conto de H.G,Wells intitulado ” A ILHA DO EPIORNIS”, que é uma verdadeira parábola a respeito do Estado liberal. Um náufrago que deu às costas duma ilha deserta da Oceania encontrou, em perfeito estado, um ovo de EPIORNIS, ave monstruosa ante-diluviana, Simurgh dos árabes, pássaro Roca das ” Mil e uma noites”. Resolveu então chocá-lo, afim de fazer nascer o animal antigo que, vivo, quando fosse achado por um navio salvador, lhe daria uma fortuna colossal. Meteu o ovo na lama quente e tanto fez que o chocou. Nasceu o pássaro do tamanho dum avestruz. Alimentou-o cuidadosamente com peixes. E o bicharrão o acompanhava dia e noite, como um cão fiel.
Mas nada de aparecer navio nas águas da ilha. Passaram-se muitos meses e começou a contar o tempo por anos. O EPIORNIS foi crescendo e se tornou um monstro faminto que o náufrago não podia mais alimentar. Então o pássaro, contemporâneo dos megatérios quis comer o homem que o criara. Este passou a ter uma vida angustiosa, escondido durante todo o dia nos pantanais, mal saindo a noite em busca de escasso alimento. Aquilo era um inferno!! Enfim, certa vez deu com o EPIORNIS dormindo e conseguiu matá-lo. Acabara-se o pesadelo.
O Estado fraco é um verdadeiro criador de EPIORNIS. Aquece-os, choca-os, alimenta-os; depois, teme-os, foge dos seus ataques e ou é obrigado a matá-los de surpresa ou sucumbe aos seus golpes de traidores…
O ESPÍRITO DO SEC XX, PAGINAS 41-44 2ª EDIÇÃO