FREI ORLANDO SILVA, INTEGRALISTA, SOLDADO DE DEUS E DA PÁTRIA, PATRONO DO SAREX
Antônio Alvares da Silva nasceu na cidade de Morada Nova de Minas, no Estado de Minas Gerais, em 13 de fevereiro de 1913,
filho do negociante Itagyba Alvares da Silva (Juiz de Paz) e de Dona Jovita Aurélia da Silva.
Em homenagem recebeu o nome de seu avô por parte de pai e, no dia 18 de março, tornou-se cristão pelo batismo realizado
pelo padre João Bernardino Barone, na Igreja Nossa Senhora de Loreto.
Com seus oito irmãos mais velhos, aos três anos de idade, ficou órfão de mãe e pai. Passou a ser criado e
educado por seus vizinhos Sebastião de Almeida Pinho (farmacêutico) e Dona Emirena Teixeira Pinho (Dona Ninita), velhos
amigos de seus pais legítimos.
De temperamento herdado do pai, ainda muito criança, demonstrava espírito brincalhão jocoso e gostava de fazer os outros
rirem.
O pequeno Alvares era um filho muito estimado pelos pais adotivos. Os laços de um profundo e puro afeto os
ligavam, confundindo-o dentro do lar com os filhos legítimos, os quais souberam acolher muito bem o inesperado irmãozinho,
que era peralta e bem-humorado. Recebeu da nova família formação moral, sentimento de fé, piedade e obediência às leis e
aos mais velhos. Tinha horror à mentira e ao desânimo, tendo, inclusive, mais tarde, adotado o lema “Gente desanimada é
gente vencida”.
Em 1919, fez a Primeira Comunhão, juntamente com a sua prima “Agda” na mesma igreja em que foi batizado. Aos
sete anos, foi matriculado no Grupo Escolar Professor Rafael Barroso — hoje, Escola Estadual da cidade de Abaeté —, a 87 km
ao sul de Morada Nova.
A cidade de São João del-Rei passou a ser para Frei Orlando como um livro aberto de arte, de história e de religiosidade.
Procurou inteirar-se de tudo. Frequentemente, era visto com sua bicicleta subindo ladeiras íngremes, ruas sinuosas, becos
sombrios, ávido de melhor observar, sempre arguto, auscultando, indagando. Ia fazendo amigos, envolvendo uns, cativando
outros, com seu bom humor.
Como diretor na Ordem Terceira, fez parte do Corpo Docente doColégio Santo Antônio, onde passou a lecionar
Português, Geografia e História Geral. Tornou-se um autêntico missionário da caridade, arregimentando pessoas para sua
causa. Foi o criador da “Sopa dos Pobres”.
Fundou e orientou a Congregação Mariana, formada pelos alunos do Colégio Santo Antônio, ainda em São João del-Rei. Neste
período conheceu em 1935 os trabalhos sociais da Ação Integralista Brasileira em São João Del Rey e Juiz de Fora,
importantes cidades do Integralismo. Segundo o Jornal O Sigma de Juiz de Fora, filiou-se a Ação Integralista Brasileira AIB
em 12 de novembro de 1935 ajudando nas Obras Sociais do Movimento, do qual já fazia parte.
FREI ORLANDO SILVA EM 1935
Frei Orlando a Serviço de Deus e da Pátria
Ele merece o nosso eterno agradecimento e admiração, por ter ingressado voluntariamente no Destacamento da Força
Expedicionária Brasileira (FEB), afastando-se da vida religiosa que tinha em São João del-Rei. Lutou com a cruz e com a
espada. Levou a fé, a caridade e o conforto espiritual aos nossos “pracinhas” e aos italianos. Honrou o hábito dos
franciscanos e a farda do Exército Brasileiro.
Incorporação
No dia 25 de março de 1944
o 11º Regimento de Infantaria (11º RI) ocupou os barracões do Morro Capistrano, na Vila Militar do Rio de Janeiro, de onde
saiu somente em 22 de setembro, com destino ao Velho Mundo.
Frei Orlando apresentou-se voluntariamente e foi nomeado Capelão Militar pela Portaria nº 6.785, de 13 de julho de 1944, de
acordo com o Decreto nº 6.535, de 26 de maio de 1944. Abandonou sua vida pacífica do claustro, a solidão das celas
franciscanas e a paz dos templos pela vida agitada e incerta das atividades militares, a fim de atender sua vontade de bem
servir à causa do Brasil e ao santo mistério de Deus, na guerra. Declarou a um amigo que era uma missão que recebeu de
Nossa Senhora e sabia que não iria voltar.
Na manhã de 20 de julho, surge, no acantonamento, risonho e feliz, aquele que, como Tenente da Companhia de Comando
Regimental, levaria conforto e apoio espiritual aos guerreiros da FEB, empunhando apenas duas armas: um cachimbo e uma
gaita, com a qual anunciava a hora de rezar o terço. Além da missão de defender a Pátria, levar aos combatentes a palavra
de Deus, dava ânimo e motivação aos que se viam em desespero e até revoltados, ante o quadro de caos produzido pelo próprio
homem.
Na investidura de suas funções junto à tropa, celebrou sua primeira missa para o Regimento Tiradentes, em 21 de julho, em
um altar tosco de madeira construído no acantonamento do Morro Capistrano.
Quando vestiu o uniforme de capelão militar no posto de tenente, sentiu a diferença. Seu garbo e sua postura impunham
respeito e só era identificado como padre pelo distintivo da cruz na gola da túnica. Ao voltar fardado a São João del-Rei,
procurou cumprimentar a todos pelas ruas da cidade, com tanta alegria, que parecia despedir-se de tudo e de todos. Na missa
de despedida, no Templo de São Francisco de Assis, subiu ao púlpito, falou da situação da guerra e ressaltou a sua
satisfação de servir a Deus e à Pátria. “Hoje é o dia mais feliz de minha vida, completei o meu ideal: sou agora soldado de
Deus e da Pátria.”
O incidente que levou à morte Frei Orlando
A MORTE DO FREI ORLANDO, A PASSAGEM PARA A MILÍCIA DO ALÉM
Na manhã de 20 de fevereiro de 1945, véspera da conquista de Monte Castelo, Frei Orlando,
depois de estar com a 4ª Companhia (4ª Cia), em Falfare, dirigiu-se ao observatório de Monte dell Oro. Lá, manifestou ao
Comandante do Batalhão o desejo de ir de Falfare até Bombiana, para visitar a 6ª Companhia (a mais bombardeada). Optou por
um caminho mais curto, porém perigoso, mas o Comandante do Batalhão impôs-lhe o mais longo e seguro. Seguiu sozinho, a pé,
marchou ao encontro da morte. A meio quilômetro de Bombiana, durante o percurso, encontrou-se com o Capitão Francisco Ruas
Santos, que o convidou para prosseguir no seu jipe, dirigido pelo Cabo Gilberto Torres Ruas, que, juntamente com o Sargento
Partigiani (membro da Resistência italiana, atuando como guia), seguiam na mesma direção. Frei Orlando, muito folgazão,
ainda contou uma passagem alegre da ocupação holandesa no Brasil, dando uma de suas costumeiras gargalhadas.
O jipe seguia lentamente pelos caminhos esburacados para o ponto cotado 789, quando, de repente, se deteve sobre uma pedra.
Todos desembarcaram e procuraram retirá-la, engastada no eixo dianteiro. O sargento italiano, no intuito de ajudar o
capitão, que trabalhava na retirada com uma manivela, o fez desferindo forte pancada com a coronha de sua arma. Isto
ocasionou um disparo acidental, que atingiu mortalmente o Frei Orlando. Este soltou um grito; ao mesmo tempo, levou a mão
ao peito. Dando alguns passos à frente, tirou seu terço do bolso do casaco, balbuciando a Ave-Maria. O Capitão Ruas largou
tudo e saiu às pressas à procura do médico do batalhão, mas já era tarde. O italiano chorava e lamentava em prantos,
agarrado ao corpo do capelão.
Às 14 horas do dia 20 de fevereiro, ao som de granadas e metralhas, o corpo de Frei Orlando, vestido com o hábito
franciscano e o capuz, em atenção a seu último pedido em vida, foi velado por praças e alguns oficiais na Capela de Santo
Antônio de Bombiana. Pouco antes da tomada de Monte Castelo, durante uma visita à linha de frente, Frei Orlando faleceu
vitimado por um tiro acidental. Contava com 32 anos de idade, tornando-se o único capelão brasileiro morto nas operações de
guerra da Itália. Seu corpo atualmente repousa no Cemitério de Pistola, sendo sido enterrado com sua camisa-verde embaixo
da batina, conforme declarou em discurso o Deputado Populista Sr. Hilário Torloni (PRP-SP), na tribuna da Câmara de
Deputados, publicado as palavras no Diário Oficial do dia 20 de agosto de 1955. Além deste herói nacional muitos outros
Integralistas integrantes das Forças Expedicionárias Brasileiras foram condecorados por atos de bravura, tornando-se
exemplos para os demais soldados.
Às 19 horas, durante a missa de corpo presente, seu corpo foi colocado em cima de uma padiola, no chão frio da capelinha. O
Capelão Frei Orlando parecia dormir, ninguém acreditava no que aconteceu. Todos choravam a perda inesperada do frei que
sonhava um dia ser missionário na China
O Patrono do Serviço de Assistência Religiosa do Exército
“O insigne Antônio Alvares da Silva, Frei Orlando, que morreu pela Pátria e por Deus no
campo de batalha italiano durante a II Grande Guerra, nasceu para a eternidade e teve seu nome imortalizado como Patrono do
Serviço de Assistência Religiosa do Exército (SAREx).”
Quando da constituição da Força Expedicionária Brasileira (FEB), Frei Orlando foi um dos primeiros a apresentar-se como
voluntário, sendo nomeado Capitão Capelão do II Batalhão do 11º Regimento de Infantaria, sediado em São João del-Rei, na
data de 13 de setembro de 1944. Sete dias depois, embarcou com a Força Expedicionária Brasileira para participar da II
Guerra Mundial na Itália. Partiu satisfeito, pois o seu sonho era ser missionário de Cristo e do Brasil. Foi expedicionário
de sua igreja e de sua pátria.
Considerou-se justo que nossos combatentes, em plagas italianas, fossem fortalecidos espiritual e moralmente pelos capelães
militares. Foram assim integrados à FEB, em seus diversos escalões, trinta padres católicos e dois pastores protestantes.
Frei Orlando granjeou o respeito e a admiração de todos os integrantes de sua Unidade por seu destemor e abnegação, além da
sua luta em levar o conforto e uma palavra de encorajamento aos “febianos”, onde quer que estivessem. Sua presença era
constantemente notada na primeira linha, como se lê em um trecho de carta que escreveu a seus familiares: “Desde que vim
para a linha de frente, estou sempre no Posto de Saúde Avançado a fim de atender os feridos que chegam do campo de luta. De
fato, vivo “zanzando” por toda parte, hoje aqui, amanhã ali, dormindo ora neste, ora naquele lugar, sempre na primeira
linha. Até hoje, nada sofria. Ao contrário, estou bem disposto, alegre e sempre animando a turma.”
Estas palavras bem revelam a coragem e a alegria com que ele cumpria sua missão. Aliás, alegria era a sua marca registrada,
cunhada por ele na célebre frase: “Passei pela vida sorrindo, embora tivesse motivos para chorar!”, que bem reflete sua
atitude perante as dificuldades e os obstáculos com que se deparou durante a existência.
O Tenente Gentil Palhares, companheiro de Frei Orlando no “front” italiano, testemunha fidedigna por ter convivido
pessoalmente com o grande sacerdote, no livro “Frei Orlando: o Capelão que não voltou”, relata mais de uma ocasião em que
transparece claramente o espírito ecumênico do Patrono do SAREx. Possuir espírito ecumênico, aliás, é um dos requisitos
básicos para aqueles, padres católicos romanos e pastores evangélicos, que pretendam ingressar no Quadro de Capelães
Militares do Exército.
Naquela fria tarde de 20 de fevereiro de 1945, os soldados brasileiros preparavam-se para outra violenta arremetida a Monte
Castelo. Os combatentes anteriores mostraram aos pracinhas da FEB o valor do soldado alemão e permitiram que se
conscientizassem de seu próprio valor. Todos esperavam o dia seguinte, conservando em suas mentes a lembrança dos
companheiros mortos e feridos.
No frenesi destes trabalhos, encontramos Frei Orlando, armado de seu ritual e dos santos óleos, levando conforto e coragem
aos nossos combatentes.
As companhias do II Batalhão estavam ao pé do Monte Castelo, prontas para atacá-lo. Frei Orlando visitara todas, menos uma.
A todo custo, queria visitá-la, queria levar o conforto de suas palavras a todo o seu rebanho, pois o dia seguinte seria o
dia do ataque ao forte bastião. Foi na tentativa de alcançar a companhia que não visitara, que o Frei Orlando foi
mortalmente ferido, entregando sua alma ao Criador.
Morre esse abnegado soldado-sacerdote, tornando-se um exemplo para aqueles que dedicam sua vida a levar uma palavra de
ânimo aos irmãos de farda. Contava com 32 anos de idade. O boletim nº 52, do 11º Regimento de Infantaria (11º RI), de 22 de
fevereiro de 1945, impresso em Docce, na Itália, registrou o passamento do capelão: “Foi recebida, com dolorosa surpresa, a
notícia do falecimento do Capelão Capitão Antônio Alvares da Silva (Frei Orlando), quando se dirigia de Docce para
Bombiana, a fim de levar assistência espiritual aos homens em posição, no dia 20, quando do ataque ao Monte Castelo.