Extraído do livro Mensagens às pedras do deserto, Plínio Salgado, 1947
“Este livro é perfeitamente inútil. Suas páginas não passam de discursos para surdos ou de filmes cinematográficos para cegos. Outros discursos semelhantes, outros filmes deste gênero foram gritados ou exibidos na Polônia, na Tcheco-Slováquia, na Hungria, na Bulgária, na Rumânia, na China. Os homens sensatos não lhes deram crédito. E a catástrofe desencadeou-se, a todos surpreendendo.
Não recomendo, portanto, este livro, aos indivíduos que se julgam de raciocínio lógico, esses que se jactam de possuir um equilíbrio mental absoluto. Para eles, tudo o que aqui está escrito não passa de contos da carochinha, de elucubrações de visionários ou de embuste arquitetado para iludir ignaros.
A lógica leninista, sendo uma trama de argumentos subjetivos, nada tem a ver com a lógica marxista, nem nas suas deduções aristotélicas, nem nas suas induções baconianas. Lenine é a ilogicidade que se compendia numa nova lógica mais nova do que a de Bacon. Procede de Sorel e alimenta-se das dissimulações da antigas políticas de Pedro e Catarina II. Numa palavra: é a lógica do diabo, e o diabo não é sujeito passível de interpretação por parte de pessoas ditas sensatas, ou seja: bitoladas e formalistas. E o que se expõe neste livro não é mais do que a interpretação, ao pé da letra, da lógica de Satanás. “A obra prima do demônio – escreve Sertillanges – consiste em ter convencido os homens de que ele não existe”.
Da mesma forma, o comunismo leninista, desde as revelações e a atitude que assumiu em Zimmerwald, engendrou (para mais facilmente coordenar e conduzir as massas, os partidos, os homens de Estado, os próprios burgueses) uma técnica socorrendo-se de aparências lógicas, porém baseando-se em realidades ilógicas, não percebidas pelos espíritos desacautelados. Em suma: agindo sob a forma de exacerbados nacionalismos, de largos liberalismos, de ostensivo pacifismo, de justas reivindicações dos pobres, o comunismo leninista prepara e executa a destruição das Nações, a morte da Liberdade e dos direitos humanos, a deflagração das guerras e a escravização total do trabalhadores. A sua ação direta consiste unicamente em propagar a doutrina e, um dia, desferir abertamente o golpe técnico; mas a preparação deste se realiza através de forças secundárias: os partidos ansiosos pela conquista da popularidade como instrumento da obtenção do Poder; as organizações proletárias comprimidas pelas dificuldades econômicas muitas vezes criadas pelo próprio comunismo; o sentimentalismo popular, que constitui, segundo Sorel, o maior dos elementos propulsores das eclosões revolucionárias. * * * Em tudo isso, perguntamos: onde está o comunismo ? E os burgueses, os capitalistas, os políticos, os homens de bom senso respondem: em parte alguma.
Quando muito dirão que o comunismo não passa de meia dúzia de idealistas sem grande eleitorado. Conclusão: não há comunismo. Assim sendo, aqueles que afirmam a existência do comunismo, que denunciam as suas dissimulações, que revelam a sua força, que demonstram os seus planos, que dirigem avisos à Pátria ameaçada, são tidos em conta de homens fora das realidades, de indivíduos imaginativos e até mesmo de inventadores de histórias para captar adeptos ou colaboradores. * * * Este livro, portanto, é dedicado aos loucos. Aos que empregam o seu tempo, as suas energias, a sua inteligência, na luta contra aquilo que os homens sensatos dizem não existir. Aos que se consomem em noites de vigília, nas insônias sagradas durante as quais o espírito se atormenta ao considerar os perigos que se avolumam no horizonte de um futuro sombrio. Aos que gastam os últimos níqueis, imprimindo livros e folhetos esclarecedores. Aos que sustentam jornais deficitários, em cujas colunas os comerciantes e indústrias não comparecem com seus anúncios, receando a represália dos comunistas, cuja existência, como perigo, eles contraditoriamente negam. Aos que andam, de cidade em cidade, falando ao povo, uma vez que não podem dispor de recursos para falar pelo rádio. Aos que tentam organizar, em meio à indiferença geral, algo que possa constituir o núcleo da resistência nacional na hora da catástrofe. Aos que ouvem, freqüentemente, de seus patrícios, a frase invariável: “não tenho tempo”, frase que, no fundo, parece querer significar: “isso de defender a Nação é para vagabundo, para ociosos, não para os homens sérios, que tratam de negócios e de ganhar dinheiro”. A esses loucos, a esses obcecados, a esses paranóicos que velam pela honra nacional e pela dignidade humana é que eu dedico este livro. Quem não for da estirpe desses loucos sublimes, não leia estas páginas…”