ANTIGO ESCOTISMO E NOVO ESCOTISMO
Paulo Roque, Chefe Escoteiro, amigo e colaborador do MIL-B
O Movimento Integralista e Linearista Brasileiro já demonstrou todo o seu projeto de educação dos jovens no Estado Integral e Linear. Nesse contexto, o Escotismo é uma Escola de vida que deve ser analisada e compreendida, para que possamos extrair seus ensinamentos históricos e muito bem testados com o método do aprender fazendo. Nesse sentido, torna-se mister trazermos para discussão o que acontece no seio do Escotismo brasileiro.
Não precisa voltar muito no tempo, quem estava no Escotismo na década de 1990 percebe nitidamente que o movimento tinha uma outra dinâmica. O programa escoteiro era consideravelmente mais simples, de forma que qualquer adulto com boa vontade tinha condições de conduzi-lo perfeitamente e sobrava bastante tempo para os Escoteiros serem Escoteiros, ou seja, trabalhar em patrulhas, acampar e vivenciar sua lei e promessa principalmente por meio das boas ações.
Desde sempre o Escotismo teve esse misto de admiração e chacota das “calças curtas e chapelão”, mas ninguém dava muita atenção a isso porque o foco estava no próximo, no fazer o bem desde a boa ação diária do Lobinho cujo o compromisso é fazer o melhor possível até o ramo Pioneiro como um clube de amigos servindo ao próximo em toda e qualquer ocasião. Mesmo assim, a bem-sucedida receita escoteira era comemorada. Em 1993 o lema anual “sou 1 em 100 mil” estava estampado nos uniformes de todos os associados.
No final da década de 1990 nossos dirigentes começaram a se preocupar com a “imagem” do Escotismo e, nesse intento, dar uma “repaginada” no movimento, trazer um ar de contemporaneidade e atrair “novos públicos”. O primeiro movimento dessa “atualização” envolveu a mudança do programa escoteiro para o programa de jovens. Tal novidade ampliava o leque de possibilidades de atividades, o que deixaram voluntários bastante perdidos sobre como conduzi-lo. Mais tarde, dado o fracasso de um sistema tão aberto, deu-se um passo atrás para um programa educativo menos aberto, mas amplo e com muitas atividades replicando temas da escola formal. Muito mais atividades centradas no eu e, por consequência, menos tempo para fazer pelo outro. Uma pena, já que o Escotismo até então se reservava a abordar justamente o que a escola não fazia.
O passo seguinte foi mudar a imagem démodé do Escotismo e torná-lo um negócio descolado, mais relaxado e moderno, o que aparentemente passou a atrair um público mais heterogêneo e, por vezes, menos aderente aos valores aos quais o movimento se vincula. Nesse esforço de tornar o Escotismo mais “in”, mais “cool”, mais descolado percebe-se uma grande atenção para que o participante se sinta confortável no Escotismo. Embora essa mudança não seja propriamente ruim é interessante perceber que houve um grande deslocamento do foco do Escotismo, saindo “do outro” para um Escotismo “do eu”.
O resultado é que o espírito fraternal e tolerante do Escotismo vai se perdendo em detrimento a essas necessidades individuais. A irmandade desfeita está dando lugar a um coletivo relativamente heterogêneo, com interesses difusos e não incomumente contraditórios, resultando na fragmentação da secular e bem-sucedida cultura escoteira.
Mesmo assim o antigo Escotismo resiste pela insistência de Escotistas e Dirigentes que tem claro para si que o objetivo do movimento é a formação de líderes aderentes aos valores que o Escotismo defende e propaga a mais de um século. Uma formação que culmina com adultos diferenciados, bem-sucedidos nas diferentes dimensões de suas vidas, justamente porque estão bem resolvidos consigo mesmos, sabem que o mundo não gira em torno deles e o quanto o próximo precisa de ajuda.
O I-SCOUTING (que alguns chamam de neoescotismo) centrado no eu e em demandas pessoais, ao contrário, resulta no que? Fica a pergunta para as futuras gerações de jovens e escotistas.