A Noite dos Tambores silenciosos

“A Noite dos Tambores Silenciosos”

Jayme Castro

Zero hora no cronômetro integral de toda a imensa vastidão da Pátria. Nas cidades, nos mares, nos sertões, um trágico bater de caixas surdas…

É A NOITE DOS TAMBORES SILENCIOSOS

Três minutos, o rufo, no silêncio, traduz em grande espelho e um grande choro e simboliza os nossos corações, A alma da Pátria, inteira, está em nós, segredando que estamos vitoriosos.

Somos neste momento a própria Pátria, e distinguimos, no rumor da voz quem vem do íntimo da alma dos tambores, um soluço de angústia nacional. Há nessas misteriosas ressonâncias o distante tropél dos Bandeirantes

desbravando as florestas brasileiras; o balbuciar das tríbus aturdídas, estupefáctas, diante do estrangeiro; das féras o rugido, a voz da inúbia,

– A voz do Brasil virgem dos Tupís. Enche os nossos ouvidos atônitos todo um mundo de sons intraduzíveis. – São as vozes que foram abafadas pelo pulso de ferro da injustiça.

As vozes dos patriotas esquecidos, dos grandes brasileitos ignorados. Vêm-nos de envolta, como horrível côro, os surdos ais dos negros, sufocados, estrangulados ao vibrar do látego…

Uma paisagem trágica avassala o nosso pensamento nêste instante: Os campos do Nordeste, ressequidos, fazem lembrar uma floresta da Africa… Através dêsses campos, nas savanas, milhões de brasileiros sofrem de fome.

Vemos na dor dos homens que ali vivem. O rudo continua. Pelo ambinte há um bárbaro túmulto. Os grandes filhos do Brasil do passado, estão conosco. Vago bater de marcha acelerada, semelhante ao rolar de uma cascata, ao rugir de um tufão pela floresta, aproxima-se. é sempre mais distinto. Cresce, aumenta, reboa, estruge, empolga, vem de todos os laços, e, recorda o espetáculo do encontro do oceâno com a enorme caudal dos grandes rios.

Escuta-se uma súbita parada… São as legiões de farda côr-de-seiva que vem se recolher da grande marcha. Agora, é a voz do Chefe que escutamos Ante as legiões sem fim, ele anuncia a vitória completa, e, diz que ali é que começa a verdadeira luta.

Sacode intenso frêmito as legiões: Iá-las vibrar num ímpeto de júbilo… E as mãos que se estorciam nas angústias de um século de doida espectativa, se ergueram para o céu num arremesso de alegria, de glória e redenção.

E entre os muitos milhões de braços verdes, elevaram-se os braços dos descrentes, dos tíbios, dos perversos, dos inúteis; e a interjeição de espanto que tiveram foi o grito de nossa saudação!”

 

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